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Antes que Chegue à Noite

       

                                      Mudança! Uma palavra boa para iniciar um texto de apresentação da Marlene, mudança é uma palavra com pelo menos dois sentidos amplos, o primeiro de fazer ou sofrer modificação em si, e aí, em se tratando de arte, poderia abrir-se um portal complexo e profundo para falar de modificações, e outro no sentido de deslocamento, talvez mais simples e literal, como mudar-se para outro local.

Aqui estamos falando de uma mudança literal, aquela dos móveis da sua casa e seus objetos pessoais, ao ver as obras desta exposição e ler esse texto, você vai perceber as malas carregadas de memórias, as caixas e objetos amontoados, pilhas de objetos cheios de signos e significados, falar sobre mudança, partidas e chegadas, depende sempre de um referencial que norteia leitura das imagens, “basta um passo e já não estamos mais no mesmo lugar”.

A mudança proposta aqui é também um símbolo de nostalgia, a partir de um inventário dos seus próprios objetos e objetos de amigos, a artista nos convida a navegar por memórias que não são exclusivamente dela, não é possível dizer ao certo o que se passou com aqueles objetos, mas eles tem vincos, tem amassados, tem memória, com certeza falam de alguém, e talvez de você mesmo, suas memórias, ao pensar a história das pessoas atreladas a esses objetos por vezes você vai se encontrar dentro do trabalho da artista.

Em outra série de obras, chamada “Maria não mora mais aqui”, a artista já experimentou falar de memória, registrar o comportamento de uma pessoa por meio de vestígios deixados em uma casa, para Marlene, o que foi é bom, e o que virá também é, essas coisas podem coexistir, por isso não é nítido o que se sobrepõe a que.

As cenas retratadas nas obras da Marlene são fugazes, duram muito pouco, um contraponto diametralmente oposto a proposta do seu trabalho que é registrar para a posteridade o valor simbólico das coisas, a despeito de uma técnica singular que a coloca entre as principais aquarelistas da sua geração, a artista usa da cor e do apagamento do desenho para colocar tempos distintos em um mesmo momento, “preto e branco” e colorido, segura e sem juízo de valor, um convite doce para recombinar as suas próprias memórias a partir do trabalho da Marlene. Boa viagem!

Thomaz Pacheco

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